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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'A Assistente'

Sinopse: Jane (Julia Garner) é uma aspirante a produtora de cinema que recentemente conseguiu seu emprego dos sonhos como assistente júnior de um poderoso magnata do entretenimento.  

O recente filme "O Escândalo" (2019) retrata os inúmeros casos de assédio que o produtor da Fox News havia cometido contra as suas funcionárias ao longo das décadas. O filme veio justamente na esteira em que vários diretores e produtores Hollywood foram colocados na parede ao serem denunciados por terem cometidos crimes graves contra atrizes durante muito tempo. "A Assistente" (2019) é somente a ponta do iceberg sobre esses acontecimentos, mas que sintetiza o lado cru por detrás das cortinas desse universo do entretenimento.
Dirigido pela diretora Kitty Green, o filme aborda a vida de Jane, interpretada pela ótima jovem atriz Julia Garner da série "Orzak", uma aspirante a produtora de cinema que recentemente conseguiu seu emprego dos sonhos como assistente júnior de um poderoso magnata do entretenimento. O dia dela é muito parecido com o de qualquer outra assistente. Mas, à medida que Jane segue sua rotina diária, ela começa a perceber todos os abusos que envolvem seu ambiente de trabalho e sua posição profissional.
Antes de falar sobre o filme em si é preciso relembrarmos sobre Harvey Weinstein. Para os desavisados, Weinstein era um bem sucedido produtor de cinema, fundador da produtora Miramax, que entre os títulos do estúdio se encontra  “Pulp Fiction: Tempo de Violência” (1994), “O Paciente Inglês” (1996), “Cold Mountain” (2003) e dentre outros. Porém, em 2017, Weinstein foi acusado de abuso sexual por mais de 80 mulheres, muitas delas suas funcionárias. Tais acusações deram início ao movimento #MeToo, criado nas redes sociais onde mulheres de todo o mundo vieram a público denunciar a conduta imprópria de diversos homens poderosos. O ápice dessa situação aconteceu quando o movimento também foi apelidado de “O Efeito Weinstein”. Nem preciso mencionar que a carreira do produtor de cinema foi para o fundo do ralo e de forma merecida.
Weinstein não aparece em "A Assistente" e ninguém menciona seu nome durante a projeção, mas isso se torna mero detalhe. O que torna poderoso o filme da diretora Kitty Green é graças a sua sutileza que ela cria na construção de sua narrativa. Praticamente o filme é protagonizado pela personagem Jane e da qual ela se torna o nosso olhar com relação àquela realidade.
Com um enquadramento em que foca os principais afazeres de Jane, acompanhamos o seu dia a dia no escritório, desde os afazeres mais simples como também os mais complexos. Porém, na medida que o filme avança, a protagonista começa a sentir a pressão em sua volta, principalmente quando determinadas ligações testam os seus nervos e sua autoestima. Julia Garner nos brinda aqui com a sua melhor atuação da carreira, cujo o seu olhar transita entre a segurança para momentos de perplexidade mesmo ela não demonstrando em situações que exige sangue frio infelizmente.
Curiosamente, o filme oscila tanto em momentos dramáticos, como também de puro suspense psicológico. Em tempos em que monstros clássicos perderam o seu lugar para monstros mais realistas, ou seja, o próprio lado sombrio do ser humano, o filme se casa muito bem com a realidade nebulosa em que nós vivemos. Como já citado acima, nós nunca testemunhamos o produtor assediador da trama, mas sua presença é sentida a todo momento, seja através das consequências dos seus atos, como também do olhar da protagonista que nos diz tudo.
Aliás, o grande acerto do filme é não do uso de cenas politicamente incorretas ou algo do gênero para que a trama se torne chocante, pois basta uma boa direção como essa para que se faça toda a diferença. Talvez o ápice do filme é quando a protagonista pede ajuda com relação ao que está acontecendo em seu ambiente de trabalho, mas para somente perceber o quanto ela se encontra encurralada em um sistema cheio de regras e criado por homens machistas que acreditam que podem fazer o que bem entender. A sutileza do filme é algo sublime e que o torna obra indispensável para ser vista e discutida daqui para frente.
"A Assistente" é um filme sobre o antes e depois dos escândalos recentes de Hollywood, mas que serve também como reflexão para que as mulheres não se calem perante os horrores vindo dos próprios homens. 


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terça-feira, 28 de julho de 2020

Cine Especial: 'Beijos Proibidos' - Corra Antoine, Corra


A Nouvelle vague foi a virada de mesa que mudou o cinema francês para sempre e influenciou diversos cineastas do mundo a fora. Diferente do convencional da época, os cineastas desse movimento decidiram sair dos estúdios, gravarem as suas histórias nas ruas das cidades e revelando uma França quase nunca vista na grande tela. Neste núcleo, dois dos meus cineastas favoritos daquele país se destacaram, que foram Jean-Luc Godard e François Truffaut.
No princípio deste movimento, se por um lado Truffaut fez uma espécie de reconstituição de sua juventude em sua obra prima "Os Incompreendidos" (1959), por outro lado, Godard fez "Acossado" (1960), um filme policial fora do convencional e cuja a sua forma de filmar influenciou o cinema mundial como um todo. Falando neste último caso, qualquer semelhança desse filme com o nosso clássico "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) não é mera coincidência.  Amigos desde os tempos da revista  Cahiers Du Cinéma, tanto Truffaut como Godard criaram um cinema que falasse um pouco sobre o que acontecia naqueles tempos e que, embora falassem de temas parecidos, ambos criaram uma forma distinta de contar as suas próprias histórias.
Enquanto Godard criava o seu cinema autoral com doses cavalares com teor político como, por exemplo, "A Chinesa" (1968), por outro lado, Truffaut queria também seguir pelo mesmo caminho, mas de uma forma amenizada, porém, não menos política. com o seu alter ego Antoine de "Os Incompreendidos", o cineasta falaria um pouco da juventude francesa do final dos anos sessenta, da qual participaria dos movimentos de “Maio de 68” e sintetizando os ventos da mudança que estavam acontecendo. "Beijos Proibidos" (1968) fala um pouco dessa juventude, justamente em um momento em que tudo estava em movimento constante.

Movimento esse muito bem representado por Antoine, novamente interpretado pelo ator Jean-Pierre Léaud, e aqui vemos o mesmo abandonando o exército já no início da trama. Esse prólogo, aliás, é proposital para nos fazer lembrar que esse é o mesmo protagonista visto em "Os Incompreendidos", sendo ainda um jovem que vai contra o sistema e buscando uma forma de sempre correr de um mundo cheio de regras.  Porém, mesmo sendo uma representação de François Truffaut, vemos aqui um Antoine indo para o caminho não cinematográfico, mas sim nas trilhas em que os jovens franceses daqueles tempos abraçavam.
Vemos, portanto, um Antoine em meio aos conflitos internos com relação aos relacionamentos amorosos daqueles tempos, sendo que a sua paixão é Christine (Claude Jade), mas não escondendo os seus desejos por outras mulheres. Logo após deixar o exército, por exemplo, ele visita garotas de programas, mas de uma forma rápida, como se quisesse satisfazer as suas necessidades o quanto antes. Uma forma de nos dizer sobre aquela juventude dos anos sessenta, onde o conservadorismo não poderia mais conter os hormônios em ebulição naqueles tempos.
O conservadorismo, aliás, é muito bem representado aqui, onde mostra determinadas figuras mantendo o status de cidadão perfeito, mas não reparando o mundo mudando. Pegamos o caso do dono da loja de sapatos, que desconfia que as pessoas em sua volta não gostam dele e contrata Antoine como detetive para investigar isso. O dono dessa loja seria, talvez, a representação do capitalismo sofrendo os ataques de um mundo mais socialista que os jovens estavam querendo naqueles tempos e não se dando conta disso.
Curiosamente, determinados personagens seriam representações dessas determinadas mudanças e que não se restringem somente aos personagens em volta do dono da loja de sapatos. Temos o caso simbólico do homem querendo saber o paradeiro do seu amigo mágico e nos dando a entender que ambos tiveram um caso no passado. Se na primeira apresentação do personagem isso fica nas entrelinhas, a segunda apresentação a situação fica ainda mais explícita, principalmente quando o personagem age com extrema violência.
Portanto, em um único filme, François Truffaut fala sobre as mudanças de costumes da sociedade francesa, ou nos dando a entender que esses costumes sempre estiveram lá, só que nunca haviam se destacado no cinema francês até ali. A infidelidade, por exemplo, é algo que Antoine acaba se envolvendo com relação a esposa do dono da loja de sapatos. Mas, curiosamente, ainda há no personagem uma fagulha desse conservadorismo francês que tenta domá-lo, porém, logo é pulverizado.

Em um epílogo simbólico, onde Antoine finalmente decide abraçar a sua paixão por Christine, vemos o conservadorismo francês sendo representado na forma de um detetive e declarando o seu amor por Christine. Após isso, o casal o ignora o tratando como louco, nos dando a entender que aquela forma de amor vinda daquele personagem já não tinha mais espaço para essa geração paz e amor que se encontra sempre em movimento. Christine, logicamente, sofreria as consequências por abraçar a sua paixão por Antoine posteriormente, mas o que não seria muito diferente de inúmeros jovens casais que se dão conta que os contos de fadas somente se encontram nos livros de histórias fictícias.
"Beijos Proibidos" é uma espécie de representação dos ventos da mudança que aconteceriam em “Maio de 68”, onde uma juventude se encontrava em movimento constante e disposta em abraçar em  total plenitude. 

NOTA: Nova live de Tânia Cardoso sobre "Beijos Proibidos" nesta terça-feira. Confira abaixo: 


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segunda-feira, 27 de julho de 2020

LUTO: Olivia de Havilland (1916 - 2020)


Dame Olivia Mary de Havilland nasceu em Tóquio em 1 de Julho de 1916, filha da também atriz Lillian Fontaine e irmã de Joan de Havilland, conhecida pelo nome artístico de Joan Fontaine, que a exemplo de Olivia, tornou-se uma das mais admiradas estrelas do cinema, ambas permanecendo até a presente data como as únicas irmãs a terem sido premiadas com o Oscar de melhor atriz.
De Havilland ficou conhecida pela parceria com o astro Errol Flynn, co-estrelando com ele oito filmes, sendo o mais notório 'As aventuras de Robin Hood' (The Adventures of Robin Hood, 1938), tido como um dos maiores clássicos dentre os filmes de aventura. Mas foi sua performance indicada ao Oscar como Melanie Hamilton Wilkes no épico ...'E o vento levou' (Gone with the Wind,1939) que a colocou nos anais da história do cinema, fazendo com que a atriz ficasse marcada como o símbolo da doçura nos filmes americanos ao atribuir-lhe uma imagem da qual ela própria tentou se desvincular na esperança de obter papéis mais desafiadores e assim provar que a sua capacidade artística lhe permitia ir além - fato este confirmado na década de 1940 em seus desempenhos subsequentes, que, por sua vez, acabaram rendendo-lhe dois Oscars de melhor atriz, pelos filmes 'Só resta uma lágrima' ("To Each His Own", 1946) e 'Tarde demais' ("The Heiress", 1949), além de ter sido indicada ao prêmio também por A porta de ouro ("Hold Back the Dawn", 1941) e A cova da serpente ("The Snake Pit", 1948, tido pela atriz como o filme favorito de sua carreira).
Dentre as honrarias a ela concedidas também incluem-se a estrela na Calçada da Fama de Hollywood, que recebeu em 1960 graças a sua contribuição à indústria cinematográfica, a Medalha Nacional das Artes, concedida pelo presidente americano George W. Bush em 2008, a Ordem Nacional da Legião de Honra, com a qual foi condecorada pelo presidente francês Nicolas Sarkozy em 2010, e a Excelentíssima Ordem do Império Britânico, sendo condecorada com o título de Dama do Império Britânico em 2017 por serviços prestados às artes, tornando-se, então, aos quase 101 anos, a mais velha mulher a receber esta condecoração.
Olivia também tornou-se defensora dos direitos de atores e atrizes, tendo sido criada, por sua iniciativa, uma lei que leva o seu nome, validada com o objetivo de assegurar aos mesmos importantes direitos que estes devem ter como garantia. Em 1999 ela foi nomeada uma das 500 grandes lendas do cinema pelo American Film Institute.
Morreu enquanto dormia  aos 104 anos, em Paris.


Fontes: Wikipédia, Cinema Clássico.

Também se foi John Saxon (1936 - 2020)


Filho de imigrantes italianos nos Estados Unidos, Saxon nasceu em 5 de agosto de 1936 em Nova York. Teve uma carreira que durou 60 anos e atuou em filmes de grande sucesso como 'A Hora do Pesadelo' (1984) e Operação Dragão (1973), clássico de Bruce Lee, que trouxe filmes de artes marciais para o mainstream. Antes, Saxon era conhecido por ser ídolo teen, estrelando filmes ao lado de Esther Williams, Mamie Van Doren e Sandra Dee.
Em 1967, ele foi indicado ao Globo de Ouro por sua interpretação em ‘Sangue em Sonora’, ao lado de Marlon Brando. Mais recentemente, atuava na série ‘Dinastia’.

Fontes (com modificações): Claúdia e Isto é.

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Cine Especial: 'Farenheit 451' - O Conhecimento em Chamas


“— O que faz nas horas de folga, Montag? 
— Muita coisa... corto a grama... 
— E se fosse proibido? 
— Ficaria olhando crescer, senhor. 
— Você tem futuro". 
Diálogo entre Montag e seu superior no esquadrão 

O maior temor dos governos autoritários é o conhecimento, principalmente vindos de pessoas que se posicionam contra as suas regras e que passam os seus pensamentos para as demais pessoas que possam rever os seus posicionamentos políticos. Não é à toa que, por exemplo, Adolf Hitler mandou incinerar diversos livros durante o seu governo ditatorial nos tempos da Alemanha Nazista e gerando assim um temor ao redor do mundo contra aqueles que defendiam o conhecimento a todo custo. Não me surpreenderia, portanto, que o escritor Ray Bradbury tivesse esse grande temor, mas que acabou servindo de inspiração na realização do seu conto "Fahrenheit 451" lançado em 1953.
Muito próximo da ideia já vista no clássico literário "1984" de George Orwell, o romance de Ray Bradbury apresenta um futuro onde todos os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas antissociais e hedonistas, e o pensamento crítico é suprimido. O personagem central, Guy Montag, trabalha como "bombeiro" (o que na história significa "queimador de livro"). O número 451 é a temperatura (em graus Fahrenheit) da queima do papel, equivalente a 233 graus Celsius.
Durante anos o livro já passou por diversas releituras e até hoje se encontra mais atual do que nunca. Certa vez, Bradbury declarou que "Fahrenheit 451" não trata exatamente da censura, mas de como a televisão destrói o interesse pela leitura. Mal ele sabia que hoje a tv estaria obsoleta e perdendo o seu espaço para internet que, infelizmente, se encontra inundada por fake news e que ameaça a verdadeira informação dos fatos sobre o mundo em que nos rodeia. 

Logicamente o livro ganharia mais cedo ou mais tarde alguma adaptação para o cinema e coube essa tarefa para François Truffaut. Ao lado de alguns diretores de cinema, como no caso de Jean-Luc Godard, François Truffaut construiu uma carreira sólida na França ao fazer parte do movimento "Nouvelle vague", do qual não só mudaria a forma de se fazer cinema naquele país, como também serviria como forte influência para o mundo a fora. Em território inglês, François Truffaut realizou adaptação de "Fahrenheit 451" (1966) e que até hoje é apontada como a melhor versão do romance até aqui.
Abertura já começa com uma boa sacada de Truffaut, já que os créditos da direção e dos demais envolvidos não são apresentados de forma escrita na tela, mas sim em off e se casando com perfeição com a proposta principal da obra. Ao mesmo tempo, as imagens dão destaque as antenas externas de televisão e sintetizando com relação ao pensamento do escritor com relação ao papel dos aparelhos naqueles tempos. A partir dali somos apresentados ao protagonista Montag (Oskar Werner), que tem a ingrata tarefa como bombeiro que, ao lado de seus colegas, de queimar qualquer tipo de material impresso, pois foi convencionado que literatura um propagador da infelicidade.
A partir daí, François Truffaut apresenta aquele mundo autoritário, mas que não se encontra muito distante do nosso. Embalado com a trilha do compositor Bernard Herrmann (compositor favorito de Alfred Hitchcock), Truffaut faz questão de realizar a cenas dos livros sendo queimados como se fossem verdadeiras chacinas e dando destaque as capas de grandes clássicos da literatura enquanto são devorados pelas chamas. Curiosamente, a revista Cahiers du Cinéma, revista na qual o diretor escrevia, se encontra em um determinado momento de uma das cenas.
Embora o filme possua uma estética meio que ultrapassada da maneira de como retratavam determinados futuros alternativos naquela época, é notório que alguns pontos até hoje não envelheceram e nos surpreendendo ao revisita-los. Na casa de Montag, por exemplo, vemos como as pessoas daquele futuro se interagem com outras através da televisão, da qual é a única forma de entretenimento, mas sendo uma forma de ferramenta para aliená-los. Revisto hoje, essa cena possui um peso maior, principalmente em tempos em que muitas pessoas se dedicam cada vez mais em assistir somente vídeos pelo Youtube do que ler um bom livro.
Essa alienação, por sua vez, faz com que as pessoas daquele futuro se encontrem cada vez mais em uma espécie de transe, como se os sentimentos, lembranças e sensações começassem a desaparecer aos poucos. Isso é representado muito bem pela esposa de Montag, interpretado pela atriz Julie Christie e conhecida mundialmente pela sua atuação no filme "Doutor Jivago" (1965). Aqui, a sua personagem se encontra consumida pela alienação que ela absorve através da televisão, ao ponto que suas energias são consumidas em um determinado ponto da história.
Ao mesmo tempo, Montag conhece Clarisse sua vizinha e que é também interpretada pela atriz Julie Christie. Clarisse é o oposto da esposa de Montag, ao ponto que sentimos nela uma predileção pelos livros que são caçados naquele mundo, mas não deixando isso explícito em um primeiro momento. Segundo o diretor, o motivo de a atriz fazer as duas personagens e a de que o bombeiro Montag vive seus desafios acompanhados por duas figuras femininas, onde uma é a imagem invertida da outra.

Porém, ao meu ver, cada um tem a sua interpretação com relação qual das duas influenciou as escolhas dele com relação ao seu posicionamento a favor dos livros que foi logo revelado ao longo da trama. No meu entendimento, Montag passou a cada vez mais se sentir sufocado naquela realidade em que ler e escrever eram proibidos, passando então a ler livros escondidos e assim obter a sua saúde mental intacta. Talvez a sua escolha não precisaria necessariamente da influência das duas personagens, pois aquela realidade já era mais do que o suficiente para ele tomar uma iniciativa de forma independente.
Assim como no livro, o filme também possui passagens poderosas como aquela em que uma senhora decide sucumbir as chamas juntos com os seus livros. Aqui, o conhecimento impresso sendo extinto ao lado de um ser humano nos diz que um não vive sem o outro, sendo que o conhecimento não existe se não houver alguém para obtê-lo, assim como a vida não faz um menor sentido quando se perde o conhecimento.  Porém, a reta final da história nos mostra que ainda há esperança como um todo.
Com simplicidade e sem muita pirotecnia da época, Truffaut adapta com perfeição a mensagem final do livro, do qual nos diz que os governos autoritários podem até destruir ou alienar muitos, mas não significa que serão todos. Testemunhamos então o protagonista se inserindo em uma sociedade clandestina, onde os apaixonados pelos livros decoram os mesmos para serem guardados em suas mentes. Feito isso, os livros são queimados para que o governo autoritário não consiga achá-los, mas suas histórias permaneceram a salvas nas mentes daquelas pessoas.
Curiosamente, há uma rápida cena em que Montag presencia a sua própria execução na televisão através das autoridades. Tanto essa passagem lida no livro, como também vista no filme, sintetiza o fato de que esses governos autoritários alimentam o povo através da mentira e fazendo com que os mesmos não se sintam mais satisfeitos só com a verdade, pois ela acaba não se tornando mais suficiente. Em tempos em que o Brasil e outros países que são governados pela extrema direita, da qual se alimenta através das fake news, essa cena revista hoje em dia tem um peso muito maior.
François Truffaut declarou certa vez que ficou decepcionado com a versão original do filme, pois não gostou de alguns diálogos em inglês. Truffaut declarou ainda que preferia a versão dublada em francês do filme, cuja tradução foi inclusive supervisionada por ele. Polêmicas à parte, tanto o livro como a sua versão cinematográfica faz de "Farenheit 451" uma obra obrigatória para ser vista e revista por todas as gerações e das quais precisam despertar da alienação imposta pelos seus próprios governantes que se acham os donos da verdade.

NOTA: O filme será revisto e analisado pela minha colega Tânia Cardoso em uma live pelo Instagram. Mais informações segue abaixo.  



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quinta-feira, 23 de julho de 2020

Cine Dica: O suspense brasileiro “Disforia” está no Amazon Prime


Sinopse: Dário sofre pela dificuldade em se recuperar de um acontecimento assustador de seu passado. Ao se aproximar da menina Sofia, as emoções e a culpa tomam conta da vida de Dário, a partir das sensações estranhas e perturbadoras que a menina causa nas pessoas ao seu redor. Atormentado, ele precisa encarar o passado e o mistério envolvendo a família de Sofia.
Confira o trailer clicando aqui.  
FICHA TÉCNICA:
Direção: Lucas Cassales
Empresa Produtora: Sofá Verde Filmes
Empresa co-produtora: Epifania Filmes
Roteiro: Lucas Cassales, Thiago Wodarski
Produção executiva: Mariana Mêmis Muller
Direção de produção: Martina Zanetello
Direção de fotografia: Arno Schuh
Montagem: Daniel Almeida
Direção de arte: Maurício Bispo, Richard Tavares
Som direto: Tomaz Borges
Desenho de Som: Tiago Bello
Trilha sonora original: Tiago Abrahão
Elenco: Rafael Sieg, Isabella Lima, Vinícius Ferreira, Juliana Wolkmer, Janaina Kremer, Ida Celina Weber

SOBRE A DISTRIBUIDORA – LANÇA FILMES:
A Lança é uma empresa distribuidora de conteúdo audiovisual. Trabalha em parceria com produtoras e exibidores. Entre seus títulos destacam-se: A Cidade dos Piratas (2019), Aventura em Miniatura (2019), Meditation Park (2019), Tamara (2019), Yonlu (2018), Entre-Laços (2018) e Sobre Viagens e Amores (2017).

Assessoria de Imprensa
Anna Luiza Muller
Marcela Salgueiro – marcela@primeiroplanocom.com.br
21 2266-0524 / 2286-3699
Twitter: @Primeiro_Plano /  Instagram: @Primeiroplanocom

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Cine Dica: Durante a Quarentena Assista: 'ADÚ'

Sinopse: Adú conta a história comovente da busca de uma criança de seis anos para chegar à Europa depois de escapar da sua cidade nos Camarões, em África 

Embora superproduções americanas de grande alcance como, por exemplo, “Pantera Negra” (2018) toquem no assunto sobre os muros em volta que dividem o muro, isso acaba ainda não sendo o suficiente para que o assunto continue sendo debatido e estendido por um bom tempo. O que falta, talvez, seja uma obra que trate do tema sobre os imigrantes atuais de uma forma mais crua, mas que consiga dialogar com a massa que, infelizmente, se encontra alienada sobre o que acontece no mundo real em sua volta. “Adú” pode até ser considerado um filme romanceado por alguns, mas não foge de uma proposta mais crua e que devemos sim experimentá-la.
Dirigido pelo espanhol Salvador Calvo, o filme começa em Adú, numa cidade autônoma de Melilla no norte da África pertencente à Espanha. Um Guarda Civil chamado Mateo tem a tarefa de proteger o arame farpado que divide a cidade do resto da África, evitando a entrada de imigrantes. Coincidentemente, em uma reserva de Mbouma no Senegal, um consultor externo chamado Gonzalo deve impedir a matança de elefantes por caçadores ilegais, mas falha ao tentar salvar o mais importante da reserva. Com isso, o jovem Alika e seu irmão mais novo Adu são forçados a fugir de sua pequena cidade em Mbouma e precisam lidar com a perseguição por testemunharem acidentalmente o assassinato.
Embora o roteiro nos pregue coincidências, por vezes, demais ao longo da história, isso é contornado graças a sua proposta principal, ao falar sobre um mundo cada vez mais dividido, desumano e sugado por um sistema nenhum pouco socialista. O cenário miserável, por exemplo, é carregado de simbolismos do ocidente, onde marcas como a Coca Cola, ou celebridades do esporte, estão espalhados por todo o lugar, mas que se tornam meros enfeites de distração para alegrar aquele povo que vive da fome e guerras infinitas que perduram até hoje. Se a massa do restante do mundo sabe sobre assunto somente pela superfície, ao menos, isso acaba por então tendo um choque ao constatar que tem muito ainda a ser aprendido.
O pequeno protagonista Adú se torna o coração do filme, ao representar as milhares de crianças que fogem de suas terras para obter a felicidade do novo mundo, mas que dão de encontro com as regras de um sistema já a muito tempo viciado. Sua cruzada, aliás, é dolorosa, mas que não deixa de ser uma aventura a ser contada e que dificilmente uma pessoa do ocidente um dia irá experimenta-la. Se por um lado vemos Adú aprendendo logo cedo as dificuldades do mundo atual, por outro lado, temos os personagens do ocidente, que se inserem nesta realidade para ajudar, mas mal sabem sobre o verdadeiro significado da palavra.
Temos então Gonzalo (Luís Tosar) que tenta proteger os elefantes a todo custo, mas que desconhece as reais necessidades daquele povo. Ao mesmo tempo recebe a visita da filha Sandra (Anna Castilho), garota rebelde, alienada, mas que tenta compreender a realidade do pai que o fez ele se afastar de sua vida. Sandra, aliás, seria uma representação da massa branca do ocidente de vida vazia, que acredita ter problemas pessoais, mas mal sabendo o que é realmente passar por necessidades e descobrindo, mesmo que superficialmente, uma nova realidade.
O filme não veio somente para querer denunciar sobre os desleixos das autoridades do mundo sobre o que acontece em países em que os seus povos são obrigados a abandoná-los, como também é um retrato de pessoas comuns em busca de sua própria redenção em meio a esse cenário. Porém, o filme é falho na questão do guarda Mateo (Álvaro Servantes), que busca uma forma de se redimir por um ato falho no passado, mas cuja a solução vista no ato final acaba soando artificial, como se a intenção ali fosse fazer dele o homem branco salvador.
Porém, esse artificialismo logo é abandonado para dar lugar a um cenário que perdura até hoje e que, infelizmente, não terá um final tão cedo. Ao vermos o destino em aberto de Adú na reta final da trama, constatamos que não é somente para dele, como também de milhares de crianças que são jogadas nesta realidade sem muitas perspectivas para um futuro melhor. Tudo que nos resta é torcer para que, um dia, ocidente possa mudar o seu sistema com relação em ajudar essas pessoas desamparadas, mesmo quando esse milagre ainda possa parecer um tanto distante de nossa realidade.
Mesmo romanceado em alguns pontos, “Adú” é retrato cru de uma realidade em que a sociedade alienada gosta de ignorar, mas que é preciso um dia testemunhar. 

Onde Assistir: NETFLIX 

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terça-feira, 21 de julho de 2020

Cine Dica: XVI Fantaspoa será totalmente online e gratuito


O XVI Fantaspoa será realizado de forma totalmente online, na plataforma Darkflix (www.darkflix.com.br), e gratuita, entre os dias 24 de julho à 2 de agosto de 2020. 89 curtas e 48 longas-metragens serão disponibilizados ao público no Brasil com legendas em português, quando não falados nesta língua. Com obras advindas de mais de 35 países, o festival reforça sua missão de disponibilizar ao público um panorama representativo da produção fílmica mundial recente na seara do cinema fantástico. 
Mais informações sobre o festival acompanhem no site oficial clicando aqui.