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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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terça-feira, 13 de novembro de 2018

Cine Dica: Em Cartaz: A Cabeça de Gumercindo Saraiva



Sinopse: No fim do século XIX, a Revolução Federalista marcou o sul do Brasil. Na época, o caudilho revolucionário Gumercindo Saraiva foi assassinado pelos legalistas. O filho dele, Francisco Saraiva, parte com cinco cavaleiros para resgatar a cabeça do pai, cortada pelo Major Ramiro de Oliveira.
O grande problema da última adaptação feita para o cinema do conto O Tempo e o Vento é que ela se tornou muito plástica, romanceada e endeusando por demais os seus respectivos personagens principais. A Revolução Federalista (ou Farroupilha) foi uma das grandes guerras que a região Sul enfrentou nos anos 1893 a 1985 e transformar uma das inúmeras histórias daquele período em algo teatral e acessível para todos não significa também bom retorno. A Cabeça de Gumercindo Saraiva transita entre a realidade e a ficção, mas a verossimilhança incrementada na reconstituição dos fatos predomina no filme como um todo.
Dirigido e roteirizado pelo cineasta Tabajara Ruas (Os Senhores da Guerra), o filme conta a história do capitão Francisco Saraiva (Leonardo Machado), filho de Gumercindo, comanda um piquete de cinco cavaleiros, determinado a recuperar a cabeça do pai para evitar que ele se torne uma alma penada. Eles saem no rastro do major paulista Ramiro de Oliveira (Marilo Rosa), o emissário que ruma a capital escoltado por dois ajudantes. De um lado, a honra o misticismo, do outro, o exibicionismo e a vingança.
Realizado em belos cenários naturais como, por exemplo, São Miguel das Missões, São Francisco de Paula, Canela, Gravataí e Cambará do Sul, o filme possui, aparentemente, uma trama simples, mas que ganha contornos positivos pelo seu realismo cru, principalmente nas cenas violentas de morte e das quais não polpa os olhos do cinéfilo que assiste. Aliás, o filme possui todos os ingredientes de um faroeste de antigamente, mas nada romantizado, mesmo quando o roteiro se envereda para alguns momentos a isso. Se no primeiro ato da trama os diálogos aparentam terem sido extraídos de uma peça de teatro que reconstitui os fatos, a violência da guerra, por sua vez, logo faz mudar a visão e o raciocínio dos respectivos personagens principais e tornando os diálogos cada vez mais realísticos para os nossos ouvidos.
Vale destacar que o filme não há heróis ou vilões, mas sim pessoas comuns sendo jogadas numa guerra brutal, onde cada um carrega a sua ideia com relação aos fatos, mas que ambos os lados acabam por si só perdendo. Criando-se até mesmo uma metáfora com relação aos tempos contemporâneos, o papel tanto da igreja como da política são retratados de uma forma não muito diferente do que se vê hoje em dia e sendo participantes, mesmo que indiretamente, das principais atrocidades vistas na tela: a cena em que se reconstituem os mil prisioneiros degolados (se tornando conhecido como a Guerra da Degola) com a presença da própria igreja é um soco no estômago para aqueles que se dizem politicamente corretos.
Embora o roteiro e reconstituição de época possa se destacar de uma forma elevada num primeiro momento, por outro lado, os desempenhos do elenco principal não ficam muito atrás e nos brindando com boas interpretações. Se Leonardo Machado (falecido no último dia 28 de setembro) consegue transmitir para nós um Francisco Saraiva que transita entre o ódio e a razão, por outro lado, Marilo Rosa consegue passar serenidade pelo seu personagem Ramiro de Oliveira, que tenta manter a razão em meio aos horrores do caos que o aflija. Na reta final da trama, ambos se dão conta que possuem mais em comum do que se imagina e encarando o fato de terem se tornado meros piões que são jogados num jogo de xadrez elaborado por políticos inescrupulosos.
A Cabeça de Gumercindo Saraiva é sobre as guerras dos homens do passado, mas que serve muito bem de metáfora para o cenário de ódio que molda os nossos tempos contemporâneos.



Onde assistir: Cinebancários: Rua General Câmara, nº 424, centro de Porto Alegre. Horário: 15h.  

Cine Dica: Em Cartaz: Os Invisíveis



Sinopse: Após o Partido Nazista tornar oficial a perseguição ao povo judeu na Alemanha, eles precisaram lutar diariamente pelas suas vidas. Acompanhe quatro histórias distintas que se colidem em uma única premissa: permanecer invisível em meio ao nazismo. Entre eles, a jovem órfã Hanni Lévy, o habilidoso falsificador Cioma Schönhaus, o apaixonado adolescente Eugen Friede e Ruth Arndt, que perde o contato com a família passando-se por viúva e trabalhando para um oficial alemão.

A trama se passa na Alemanha Nazista, até aí tudo bem, pois filmes sobre o assunto existem aos milhares. O que me impressionou foi que o roteiro, bem elaborado e que segura o telespectador o tempo inteiro, pois, mistura trechos de depoimentos dos judeus sobreviventes ao terror de Hitler, mesclado ao desenrolar da história deles, enquanto jovens. A cada instante de diálogo, a cena é mostrada, com muito encanto e bem dialogada em alemão severo, pois é uma língua nada atraente, para quem costuma assistir a filmes em inglês.
Lembra em cenário e figurino, o filme "o pianista”, mas a trama agora não é de um clima de assassinato intenso e de massas, como se observa em Tarantino. Agora há outro lado dos alemães a serem descobertos. Vale lembrar um pouco da história da Alemanha por aqui, não esquecendo que o povo judeu muito contribuiu para o desenvolvimento do país.
A proposta de Hitler em disseminar ódio e violência oriunda de um discurso. Antes de tudo rancoroso por parte dele. E que infelizmente tomou uma proporção enorme de ponta a ponta no país. Entretanto, a visão aqui dos alemães nazistas, nem é muito refletida sob a ótica de chocar as cenas.
Existe uma filosofia muito mais atraente, onde a inversão de valores alemães se torna mais humana. Os jovens judeus vivem disfarçados a todo o momento, fugindo o tempo inteiro da tragédia que é ser judeu! E como eles sobreviveram? Já que Hitler havia espalhado que todos os judeus já tinham sido retirados de Berlim. O filme nos mostra a luta pela sobrevivência, já que eles perderam tudo o que tinham identidade, família, pertences pessoais.
Mas a Historia relatada é mostrada diante das câmeras, é um agradecimento aos alemães que ajudaram a salvar estas pessoas que lamentavelmente passaram por uma história de vida nada agradável, visto que eram perseguidos por um homem sem piedade. Esses alemães que eram contra esse desmembramento da sociedade germânica. Então, esse filme mostra os sorridentes e aguerridos velhinhos judeus, contando em forma de narrativa, as suas peripécias para se salvarem, frente à estúpida guerra. Além de ser uma ode ao grupo de alemães que eram resistência a um sistema inescrupuloso, corrupto e assassino. Sem dúvida, para os curiosos e sensíveis, um belo filme, instigante e reflexivo.

 Autoria: Professora Neusa dos Santos Pereira. 

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

LUTO: STAN LEE - 1922 - 2018

Aos 95 anos Stan Lee parte desse mundo e nos deixando um legado imortal. Graças a ele os heróis de HQ, como Homem Aranha por exemplo, se tornaram gente como a gente e injetando humanidade em toda boa história que se preze. Vá em paz.



Cine Especial: Clube de Cinema de Porto Alegre:

 Nota: filmes exibidos para associados nos dias 10 e 11 de Novembro.  

My Name is Now, Elza Soares



Sinopse: Um filme com a cantora Elza Soares, ícone da música brasileira, numa saga que ultrapassa o tempo, espaço, perdas e sucessos. Elza e seu espelho, cara a cara, nua e crua, ao mesmo tempo frágil e forte, real e sobrenatural, uma fênix, que com a força da natureza transcende e canta gloriosamente.

Na minha crítica recente sobre o filme Bohemian Rhapsody, eu havia dito que a vida de um artista dentro do universo da música é tão intensa que, na maioria dos casos, uma adaptação para o cinema não é o suficiente para representar o que foi a vida e a obra de um determinado ícone da música. Se uma adaptação não se torna exatamente fiel a realidade cabe, então, o próprio artista se desnudar na frente da câmera e nos passar uma idéia sobre o que a sua carreira lhe proporcionou e lhe tirou em vida. My Name is Now, Elza Soares, talvez, seja mais ou menos isso, ao testemunharmos uma artista sem nenhuma vergonha diante da câmera e dizer o quão a vida pessoal e artística lhe moldou como pessoa. 
Dirigido por Elizabete Martins Campos, a obra não é um simples documentário, mas sim mais parece uma espécie de ensaio cinematográfico para  contar quem é Elza Soares como ser humano. Aqui não há entrevista de pessoas próximas a ela, mas sim somente da própria, falando sobre os seus altos e baixos da vida e de como soube lidar, tanto com o sucesso, como também com os seus percalços. Fora isso, na visão da cineasta, talvez não baste somente Soares dizer para a câmera sobre a sua pessoa. 
Através de imagens de arquivo, conhecemos inúmeras passagens da vida pessoal e artística de Elza Soares, das quais se entrelaçam, por exemplo, com as fases de uma lua que vai se apresentando ao longo da obra. Ao mesmo tempo, Elizabete Martins insiste em colocar a cantora em diversos cenários surrealistas, como se fossem uma representação, tanto da alma, como das entranhas da artista: a cena em que vemos Elza ir em direção a um túnel obscuro sintetiza bem esse pensamento. 
Como não poderia ser diferente, há uma passagem referente ao seu casamento com o jogador Garrincha, do qual é representado por fotos de arquivos de tempos mais longínquos. Infelizmente para os fãs que esperam por mais detalhes sobre essa união podem ficar um tanto que decepcionados, já que não há muitos detalhes, mas sim somente o que é mostrado na tela. A obra não faz questão de explorar a fundo as perdas e danos que Elza passou em vida, mas tendo somente uma ideia através do que ela fala.
E é exatamente isso que o filme é, ao trazer uma Elza  nua e crua, falando um pouco de sua pessoa através de sua música, mas não revelando explicitamente o que, talvez, muitos fãs gostariam de ver e ouvir. O que resta na obra é vermos ela como uma artista sem remorso, sem medo, que diz muito, mas também revela pouco. Para os cinéfilos, a obra pode até impressionar pelos recursos utilizados para moldar a ideia do que artista é, mas será pouco para os fãs e para os entendedores da cultura musical brasileira. 
My Name is Now, Elza Soares acaba sendo apenas a superfície sobre alguém que tem muito ainda a dizer. 


Gauguin – Viagem Ao Taiti



Sinopse: Em 1891, o artista Paul Gauguin decide, por conta própria, ir para o exílio no Taiti. Lá, ele espera reencontrar sua pintura livre, selvagem, longe dos códigos morais, políticos e estéticos da Europa civilizada. Mas, no local, acaba se afundando na selva, enfrentando a solidão, pobreza e a doença. Ele deve se reunir com Tehura, que se tornou sua esposa e o tema de suas maiores pinturas.


O pós-impressionismo de Paul Gauguin é muito reconhecido por seu primitivismo em constante contato com a natureza e cores exuberantes. Nesse estágio específico em que procura se aproximar da vida selvagem, com paisagens diferentes da monotonia cosmopolita parisiense, encontra sua criatividade em estado de graça, embora neste mesmo momento, tenha passado pela miséria que assolava a vida de vários artistas em geral.
Dirigido por Édouard Deluc, o longa conta o momento em que um dos principais pintores franceses resolve sair da França em direção ao Taiti, no século XIX, em busca de maior crescimento artístico. Ao chegar na ilha da Polinésia Francesa, o artista tenta redescobrir a natureza selvagem em sua arte e se relaciona com Tehura, sua musa inspiradora.A partir disso, conhecemos um outro lado de Gauguin, para além do “artista herói”. O longa revela as dificuldades que o pintor sofreu no Taiti, como fome e falta de dinheiro, e mostra o relacionamento dele com a mulher, desde o casamento até cenas de ciúme doentio. Na narrativa, o diretor destaca que Gauguin via Tehura não só pelo lado afetivo, mas, principalmente, por ser seu objeto nas obras.
Em uma das cenas mais impactantes do longa, a mulher aparece deitada na cama, tremendo de medo dos espíritos invadirem a casa. Quando chega na residência, Gauguin ignora o sentimento de Tehura e pede para ela continuar parada até que ele terminasse uma de suas pinturas. Vale destacar ainda a atuação do ator Vincent Cassel, que constrói com maestria esse personagem genial, egoísta, humano, e também da atriz Tuhei Adams, que mescla inocência e sensualidade.
 
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Cine Especial: Cine Iberê: O Sangue de um Poeta (1930)



 NOTA: o filme foi exibido nesse último domingo (11/11/18) às 16h no Cine Iberê Sinopse: Um artista sem nome é transportado através de um espelho para outra dimensão, onde ele viaja através de diversos cenários bizarros. História contada em quatro episódios.

Nas décadas de 20 e 30, ao menos no meu ponto de vista, havia uma procura para se fazer uma analise sobre os significados dos sonhos e do subconsciente ainda obscuro para os analistas daquele tempo. A área cultural, tanto do cinema como também literatura, serviram como plataforma para desvendar, mesmo que em parte, o submundo escondido em nossas mentes e o que elas podem significar para as demais pessoas que forem testemunhar. Luis Bunuel, por exemplo, fez um ensaio surpreendente em Cão Andaluz (1929) que, ao lado de Salvador Dali, elaborou um dos primeiros filmes a sintetizar o universo dos sonhos numa tela de cinema.
Não demorou muito para que outros cineastas daquele tempo viessem abraçar a proposta de elaborar longas metragens cujas suas imagens surrealistas falam mais por si só do que uma trama convencional vista em outros filmes. Mas antes de tudo isso, por exemplo, George Melies havia surpreendido com os seus primeiros “curtas metragens” e tendo se tornado um dos primeiros cineastas a elaborar tramas que explorassem diversas histórias do gênero fantástico através de recursos cinematográficos que se tinham em mãos naquele tempo. No meu entendimento, Jean Cocteau usou essas mesmas ferramentas cinematográficas já praticadas por outros cineastas como George Melies, mas criando em O Sangue de um Poeta (1930) uma experiência sensorial poucas vezes vistas no cinema naquela época.
Dividida em quatro segmentos, a trama gira em torno de um artista, do qual é levado a outras realidades através da criação de suas artes, desde as pinturas como também na criação de suas estátuas. Curiosamente, o filme possui passagens em que não há palavras, mas que, ao mesmo tempo, existe gradualmente a participação delas e vindas, tanto do próprio protagonista, como também do narrador (o próprio cineasta) que conta história. A partir do momento que o artista embarca nessa viagem surrealista cada um tem a sua interpretação sobre o que testemunha na tela.
Embora tenha feito me lembrar tanto de outras obras cinematográficas, como o já citado Cão Andaluz, como também de obras literárias como Alice Através do Espelho, Jean Cocteau criou um surpreende filme a frente do seu tempo. Basicamente o que assistimos são memórias, ou pensamentos, do próprio cineasta e que ele as coloca na tela do cinema sem medo algum de ser mal interpretado por aqueles que vieram a testemunhar elas. Curiosamente, há várias situações sexuais durante o decorrer trama, mesmo quando elas surgem apenas nas entrelinhas, mas que tornam a obra corajosa para a sua época.
Com inúmeros recursos cinematográficos feitos a mão naquele tempo, o filme é um verdadeiro show de efeitos visuais, dos quais impressiona até mesmo nos dias de hoje, onde vivemos rodeados por recursos de ponta vistos nas telas do cinema, mas faltando cada vez mais o calor da mão humana. Jean Cocteau talvez não tenha vindo a ser alguém tão conhecido como Luis Bunuel, mas com certeza merece ser redescoberto por essa nova geração que busca um cinema mais desafiador e que venha desafia as nossas perspectivas. O Sangue de um Poeta é uma pequena pérola cinematográfica a ser descoberta pelas novas plateias.  

     

Fundação Iberê Camargo: Av. Padre Cacique, 2000 - Cristal, Porto Alegre. Sessões de cinema sempre aos Domingos às 16h.  
 
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