Sinopse: Jeanne usa seus encantos e inteligência para ascender na escala social. Contrariando todas as convenções, ela se torna uma das favoritas do Rei Luís XV e se muda para Versalhes.
É curioso observar que ao longo da história muitos impérios foram criados através da sombra da igreja católica, mas cuja mesma não tinha força o suficiente para conter a libertinagem da raça humana. O universo aristocrático francês de séculos atrás transitava entre os bons costumes para aflorar o lado selvagem da carne como um todo e revelando o seu verdadeiro jogo entre política e cobiça. "A Favorita do Rei" (2023) mostra que não era muito difícil se chegar ao poder, desde que saiba transitar entre os bons costumes e o desejo pela liberdade.
Dirigido por Maïwenn, a mesma de "Polissia" (2011), o filme conta a história real de Jeanne Bécu, filha ilegítima de uma costureira humilde, que alcança o auge da corte francesa como amante oficial do rei Luís XV (Johnny Depp). Interpretada pela própria diretora Maïwenn, a protagonista é ambiciosa que, determinada a ascender socialmente, utiliza seu charme para escapar da pobreza. Porém, os olhares conservadores da corte serão o seu obstáculo com o passar do tempo.
Maïwenn possui um certo equilíbrio entre direção e atuação, mesmo quando se tem o risco dessas duas tarefas gerarem algo irregular no decorrer da produção. Ao usar uma história real sobre tempos passados, a mesma fala sobre o papel da mulher de ontem e hoje, sempre vigiada devido às regras dos bons costumes, mas usando um jogo de cintura perante a ignorância conservadora. Em contrapartida, o filme é uma crítica ácida com relação ao formalismo exagerado quando na realidade não passavam de seres humanos que desejavam ser eles mesmos.
Nesta última observação que eu faço, por exemplo, isso se encaixa perfeitamente com relação ao rei Luís XV, que usava e abusava dos serviços imperiais, mas não escondia o fato de que tudo ali não passava de uma verdadeira piada e isso se intensifica na cena em que Jeanne observa o seu despertar por detrás espelho. Após anos envolvidos em escândalos que gerou o seu afastamento do mundo cinematográfico, Johnny Depp retorna com estilo, ao criar para si um Luís XV não muito diferente do que foi visto em um dos seus melhores desempenhos que foi "O Libertino" (2004), porém, um tanto mais contido. Curiosamente, a sua química entre a diretora e atriz funciona até certo ponto, pois nota-se que a própria realizadora não se sentia muito à vontade com o ator em cena e isso se confirmou em algumas declarações dela de que jamais voltaria trabalhar com Depp novamente devido ao seu lado desdém com relação em atuar em determinados projetos.
Polêmicas à parte, o filme irá agradar aqueles que apreciam um bom filme que se preocupa em fazer uma bela reconstituição de época e nisso o longa tem em abundância. Ao mesmo tempo o filme é cru com relação ao racismo aflorado daquele período e isso é intensificado ainda mais através de alguns comentários racistas vindo das próprias filhas do rei. De lá pra cá o mundo evoluiu, mas ao mesmo tempo certas raízes venenosas do passado continuam ainda prevalecendo em tempos contemporâneos.
Ao final, constatamos que a cruzada Jeanne Bécu em busca da felicidade não é muito diferente das mulheres que acreditam que conseguiram a estabilidade da vida através do poder. Na realidade o olhar crítico e conservador sempre estará lá para destruir aqueles que não tem amarras com a igreja e cabe saber como viver neste mundo cheio de regras em que a religião dita a última palavra. O filme pode ser irregular em alguns momentos, mas a sua mensagem já vale a sessão como um todo.
"A Favorita do Rei" é sobre tempos em que o poder francês ansiava pela libertinagem, mesmo com o olhar conservador da igreja.
Faça parte:
Facebook: www.facebook.com/ccpa1948