Damien Leone é um daqueles casos de talentos que surge do nada no cinema independente e logo chama atenção pela sua criatividade mesmo com um orçamento minúsculo de produção. Além disso, o cara é diretor, produtor e roteirista dos seus próprios filmes e por conta disso não me surpreenderia se ele não se vendesse para grandes estúdios, pois assim ele perderia a chance de fazer o que bem entender em seus projetos. Neste último caso, por exemplo, se nota que ele usa e abusa da violência ao extremo e isso é notado nos filmes onde o protagonista é sem sombra de dúvida a sua maior criação...Art, O Palhaço.
Para entendermos melhor como surgiu essa figura que está dando o que falar, vamos voltar no tempo começando pelo princípio.
All Hallows' Eve (2013)
Intitulado aqui no Brasil como "Terrifier O Início", aqui a trama começa quando uma babá cuida de duas crianças na noite de Halloween. Quando elas estão prontas para dormir é encontrado uma fita de VHS em um dos sacos doces das crianças, onde há um filme de terror com três contos diferentes, mas contendo em comum um palhaço assassino. A ficção, por sua vez, parece que começa adentrar no mundo real.
Se nota que o filme foi realizado com baixíssimo orçamento, com elenco praticamente amador e cujas interpretações são risíveis. Além disso, para o entendedor do gênero, o filme tem vários clichês já vistos em outros filmes, que vai desde "Jogos Mortais" (2004), "O "Chamado" (2004) e os mais diversos clássicos do estúdio Amicus e dos quais os longas eram moldados por antologias. Porém, o que nos chama atenção é a figura sinistra de Art, O Palhaço.
Nota-se aqui que inicialmente ele seria apenas uma figura que interliga as três tramas que acontecem dentro do VHS. Porém, devido ao seu visual peculiar e sinistro, o personagem logo foi chamando atenção pelos festivais e poucos cinemas que o filme passava. Se nas duas primeiras histórias ele tem pouco destaque, atenção para a terceira parte, da qual ele mostra para que veio e culminando em um prólogo bem criativo, mesmo nos passando aquela sensação de Déjà vu em alguns momentos.
"Terrifier O Início" era para ser mais um filme experimental, mas pelo visto a criatura nascida através da mente de Damien Leone queria o seu lugar ao sol.
Terrifier (2016)
Com a boca a boca do filme anterior, Damien Leone decidiu dar maior espaço ao seu palhaço assassino e dando a ele o seu próprio protagonismo. Lançado em 2016, o filme foi produzido com pouco mais de R$ 100 mil dólares, mas é interessante observar que, em termos de produção, o filme é muito melhor se for comparado a produção anterior. Porém, isso se deve à dedicação total ao realizador e demonstrando total perfeccionismo ao absurdo.
Talvez essa seja a palavra que melhor define a palavra como um todo, pois embora a trama aparenta ser simples, ela é recheada de violência explícita, muito sangue, gore e não recomendado para pessoas sensíveis. A trama começa com uma vítima do palhaço dando entrevista para um programa sensacionalista e destacando o seu rosto completamente desfigurado. Se sentindo humilhada, a vítima mata a apresentadora no camarim e a partir daí o filme volta no tempo e mostra o que realmente aconteceu anteriormente.
Mesmo com um elenco amador aqui há um cuidado maior em suas interpretações, mas ao mesmo tempo o diretor faz questão da produção nos passar a sensação de Filme B, sendo algo que me fez lembrar "Planeta Terror" (2007) de Robert Rodriguez. Mas talvez o maior trunfo da produção seja na escolha do ator em fazer Ar, O Palhaço, interpretado por David Howard Thornton, pois a sua presença é assustadora, onde o interpreta incrementa o uso de mímica e fazendo de sua construção para o personagem ainda mais interessante. Suas cenas onde ele massacra os demais em cena são dignos de nota, onde o mesmo trata tudo como uma grande brincadeira e tudo ainda mais peculiar na medida certa.
Não fica exatamente muito claro sobre o que é Art, O Palhaço, mas meramente um assassino está longe disso, principalmente na cena do necrotério que nos dá uma dimensão sobre até que ponto a criatura pode chegar.
Terrifier 2 (2022)
Com um orçamento bem maior, em torno de R$ 250 mil dólares, o filme acabou arrecadando 16 milhões em bilheteria e se tornando o melhor título da franquia. Aqui, Damien Leone procura nos passar algumas possibilidades sobre o que é Art, O Palhaço, ao inserir uma pequena personagem sinistra e que acompanha o assassino em sua cruzada sangrenta. Porém, diferente dos filmes anteriores, aqui temos um protagonismo feminino de destaque que recai na personagem Sienna Shaw, interpretada pela atriz Lauren LaVera. Sienna é uma jovem que cria uma fantasia de Arcanjo para uma festa de Halloween, mas ao mesmo tempo começa a ter pesadelos com um palhaço assassino e tendo ligação com os desenhos que o seu pai falecido havia feito.
Embora sucesso de crítica e de público, o filme foi apontado como um dos filmes mais violentos dos últimos tempos, onde há relatos de pessoas que passaram mal durante a projeção. Verdade seja dita, tudo é muito explícito, gore, com o direito de o palhaço matar e desmembrar as suas vítimas vagarosamente. Para os fãs de horror que acompanham franquias como "Invocação do Mal" pode ter certeza que essas pessoas não estão muito bem preparadas para a produção de Damien Leone.
Curiosamente, a vítima que havia sobrevivido no filme anterior, mas tendo assassinado a apresentadora sensacionalista, tem um papel curioso na reta final da trama. Porém, é somente uma peça a mais de mistério sobre o que é realmente o Palhaço, sendo que neste longa o teor fantástico é muito mais acentuado e culminando isso em uma cena em que Sienna está presa dentro de uma caixa cheia de água. Ao meu ver, não me admira se o próximo capítulo ir para o mesmo caminho de outras franquias como foi no caso "Sexta Feira 13".
Enfim, esse maligno Ar, O Palhaço veio pra ficar, ou seja, mais banhos de sangue ainda estarão por vir.
Sinopse: Os fãs de terror vão mergulhar em uma experiência aterrorizante em Terrifier 3, o mais sangrento da franquia. No filme o palhaço assassino Art está pronto para espalhar o caos sobre os moradores inocentes do Condado de Miles durante uma pacífica véspera de Natal.
Todo Tempo Que Temos
Sinopse: As vidas de Almut (Florence Pugh), uma talentosa chef de cozinha, e Tobias (Andrew Garfield), um homem recém-divorciado, mudam para sempre quando eles se conhecem. Após um encontro inusitado, eles se apaixonam e constroem o lar e a família que sempre sonharam, até que uma verdade dolorosa põe à prova essa história de amor.
A Vilã Das Nove
Sinopse: Em A Vilã das Nove, Roberta (Karine Teles) está finalmente vivendo a melhor fase de sua vida. Recém-divorciada e desfrutando de uma nova liberdade ao lado de sua filha, Nara (Laura Pessoa), Roberta se sente revitalizada e pronta para abraçar novas oportunidades. No entanto, sua paz é abalada quando ela descobre que sua história pessoal, marcada por escolhas difíceis e abandono.
Pássaro Branco - Uma História de Extraordinário
Sinopse: De R.J. Palacio, autora do best-seller "Extraordinário" - o livro que desencadeou o movimento "escolha ser gentil" -, vem o próximo capítulo inspirador. Em Pássaro Branco - Uma História De Extraordinário, seguimos Julian, um menino que tenta se reencontrar desde que foi expulso de sua antiga escola pelo tratamento que teve com Auggie Pullman.
Segredos
Sinopse: O casal em questão é formado por Naomi e Noah, interpretados por Danni Suzuki e Emiliano, que assinou também o roteiro do filme. Na trama, eles são casados há anos e, apesar de externamente serem vistos como um casal perfeito, entre quatro paredes as coisas não são como parecem. Frente a frente com os segredos um do outro, até onde eles irão para manter o casamento?
Nossa nova cinesemana destaca a estreia de MEGALÓPOLIS, o drama distópico assinado pelo cineasta Francis Ford Coppola. Também entramos no circuito do longa gaúcho CONTINENTE, terceiro filme do diretor Davi Pretto.
Entre as sessões especiais, temos a pré-estreia de O VAZIO DE DOMINGO À TARDE, de Gustavo Galvão, em exibição comentada com o diretor e a equipe. E, para fechar a Semana do Horror em grande estilo, convidamos o público a rever O ILUMINADO, de Stanley Kubrick.
A semana ainda será agitada por conta do Frapa, o Festival de Roteiro Audiovisual de Porto Alegre. Dez filmes da nova safra de produções brasileiras estarão em cartaz na Sala Paulo Amorim, incluindo “Oeste Outra Vez”, vencedor do Festival de Cinema de Gramado. Toda a programação terá entrada franca.
14h15 – MEGALÓPOLIS – ESTREIA (DE QUINTA A DOMINGO) Assista o trailer aqui.
(Estados Unidos, 2024, 138min). Direção de Francis Ford Coppola, com Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia Labeouf. O2 Play, 16 anos. Drama.
Sinopse: A cidade de Nova Roma é o cenário de um grande conflito entre Cesar Catilina, um arquiteto visionário, e seu rival, o ganancioso prefeito Franklin Cicero. Ambos têm visões distintas sobre o futuro e sobre como deve ser uma cidade ideal. No meio deles está Julia Cicero, que ama Cesar mas também apoia seu pai. Considerado o filme mais ambicioso do diretor, o projeto existe desde os anos 1980 e foi financiado pelo próprio Coppola, a um custo de US$ 120 milhões.
16h45 – CONTINENTE – ESTREIA (DE QUINTA A DOMINGO) Assista o trailer aqui.
(Brasil/França/Argentina, 2023, 115min). Direção de Davi Pretto, com Olivia Torres, Ana Flavia Cavalcanti, Corentin Fila. Vitrine Filmes, 18 anos. Terror.
Sinopse: Depois de 15 anos fora do país, Amanda volta ao sul do Brasil, na fazenda onde cresceu, para rever seu pai, que está em coma. Helô é a única médica que atende no lugarejo e acompanha uma crescente tensão entre os trabalhadores da terra. Quando o pai de Amanda morre, um antigo acordo gera uma perturbadora reação coletiva da população.
MOSTRA FRAPA – DE 30/10 A 08/11 – ENTRADA FRANCA
Sessões gratuitas, com distribuição de ingressos uma hora antes da exibição.
31/10 - 19h - "UM DIA ANTES DE TODOS OS OUTROS" - Sessão seguida de debate com as roteiristas e diretoras Fernanda Bond e Valentina Homem.
01/11 - 19h - "MEMÓRIAS DE UM ESCLEROSADO" - Sessão seguida de debate com os roteiristas Rafael Corrêa, Thais Fernandes e Ma Villa Real, e o montador Jonatas Rubert.
02/11 - 19h - "BIZARROS PEIXES DAS FOSSAS ABISSAIS" - Sessão seguida de debate com o roteirista e diretor Marão.
03/11- 19h - "O DIA QUE TE CONHECI" - Sessão seguida de debate com o roteirista e diretor André Novais Oliveira.
04/11 - 19h - "OESTE OUTRA VEZ" - Sessão seguida de debate com o roteirista e diretor Erico Rassi.
05/11 - 19h - "ESTRANHO CAMINHO" - Sessão seguida de debate com o roteirista e diretor Guto Parente.
06/11, 19h - "AVENIDA BEIRA-MAR" - Sessão seguida de debate com os roteiristas e diretores Bernardo Florim e Maju de Paiva.
SESSÃO NOSTALGIA
DIA 2 ÀS 22h - INGRESSOS À R$ 10,00.
O ILUMINADO
(The Shining - Estados Unidos, 1980, 144min). Direção de Stanley Kubrick, com Jack Nicholson, Shelley Duvall, Danny Lloyd. 16 anos. Terror psicológico.
Aspirante a escritor e alcoólatra em recuperação, Jack Torrance aceita um emprego para cuidar do isolado e histórico hotel Overlook. Em pleno inverno, Torrance, sua mulher Wendy e o pequeno Danny começam a viver episódios que trazem um passado terrível à tona. Baseado no livro homônimo de Stephen King, o filme é considerado um clássico do gênero.
SALA EDUARDO HIRTZ
15h – DEIXE-ME (DE QUINTA A DOMINGO) Assista o trailer aqui.
(Laissez-moi - Suíça, 2024, 92min). Direção de Maxime Rappaz, com Jeanne Balibar, Thomas Sarbacher, Pierre-Antoine Dubey. Imovision, 14 anos. Drama.
Sinopse: Claudine é uma mãe amorosa que jamais abandona o filho deficiente. A exceção são as terças-feiras, quando ela deixa o jovem com uma vizinha e se hospeda em um hotel nos Alpes. Lá, ela se assume como uma mulher cheia de desejos e passa as tardes em encontros amorosos com desconhecidos. Claudine nunca pensou em mudar de vida, até que um homem pede que ela fique mais tempo com ele no hotel.
17h – INVERNO EM PARIS (DE QUINTA A DOMINGO) Assista o trailer aqui.
(Le Lyceén - França, 2024, 125min). Direção de Christophe Honoré, com Paul Kircher, Vincent Lacoste, Juliette Binoche. Pandora, 14 anos. Drama.
Sinopse: Lucas tem 17 anos e vê seu mundo desmoronar após a morte do pai. Apoiado pela mãe, o adolescente vai passar uns dias em Paris, onde seu irmão mais velho estuda. Nessa cidade repleta de possibilidades, Lucas vai conhecer pessoas de todas as índoles, enfrentar seus medos e, principalmente, tentar ser compreendido. O longa é inspirado nas lembranças do próprio diretor.
19h15 – MEGALÓPOLIS – ESTREIA (DE SEXTA A DOMINGO)
(Estados Unidos, 2024, 138min). Direção de Francis Ford Coppola, com Adam Driver, Giancarlo Esposito, Nathalie Emmanuel, Aubrey Plaza, Shia Labeouf. O2 Play, 18 anos. Drama.
Sinopse: A cidade de Nova Roma é o cenário de um grande conflito entre Cesar Catilina, um arquiteto visionário, e seu rival, o ganancioso prefeito Franklin Cicero. Ambos têm visões distintas sobre o futuro e sobre como deve ser uma cidade ideal. No meio deles está Julia Cicero, que ama Cesar mas também apoia seu pai. Considerado o filme mais ambicioso do diretor, o projeto existe desde os anos 1980 e foi financiado pelo próprio Coppola, a um custo de US$ 120 milhões.
PRÉ-ESTREIA
QUINTA, DIA 31 ÀS 19h15
O VAZIO DE DOMINGO À TARDE Assista o trailer aqui.
(Brasil, 2023, 94min). Direção de Gustavo Galvão, com Gisele Frade, Ana Eliza Chaves, Erom Cordeiro, Larissa Mauro. Lança Filmes, 16 anos. Drama.
Sinopse: Mônica é uma atriz em crise com a superexposição da vida de celebridade. A jovem Kelly não sabe disso quando tenta falar com ela, em vão, na saída de uma filmagem, no interior de Goiás. Kelly não desanima e decide encontrar sua musa novamente.
PREÇOS DOS INGRESSOS:
TERÇAS, QUARTAS e QUINTAS-FEIRAS: R$ 16,00 (R$ 8,00 – ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). SEXTAS, SÁBADOS, DOMINGOS, FERIADOS: R$ 20,00 (R$ 10,00 - ESTUDANTES E MAIORES DE 60 ANOS). CLIENTE BANRISUL: 50% DE DESCONTO EM TODAS AS SESSÕES MEDIANTE PAGAMENTO COM O CARTÃO DO BANCO.
Estudantes devem apresentar Carteira de Identidade Estudantil.
Outros casos: conforme Lei Federal nº 12.933/2013.
A meia-entrada não é válida em festivais, mostras e projetos que tenham ingresso promocional. Os descontos não são cumulativos. Tenha vantagens nos preços dos ingressos ao se tornar sócio da Cinemateca Paulo Amorim. Entre em contato por este e-mail ou pelos telefones: (51) 3136-5233, (51) 3226-5787.
Eu demorei para começar a ir ao cinema sozinho, sendo que até a década de noventa os meus pais é que me levavam para assistir somente aos filmes dos Trapalhões na tela grande. Porém, foi graças ao "Titanic" (1997) que eu comecei a frequentar sozinho os cinemas de Porto Alegre, dentre eles Imperial e Cine Vitório. Esse último, aliás, foi o cenário para a minha primeira experiência em assistir um filme de horror na tela grande e esse foi "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" (1999).
Eu já era muito fã da obra de Tim Burton, já que me identificava com a sua visão autoral na realização dos seus filmes, ao criar tramas do gênero fantástico, onde personagens complexos se misturavam com um cenário sombrio e belamente filmado. Burton já era conhecido por filmes como "Os Fantasmas Se Divertem", "Batman - O Filme" (1989), Edward -Mãos de Tesoura" (1990), Ed Wood e tantos outros, mas faltava um para ser declaradamente um verdadeiro filme de horror e foi através dessa obra baseada no conto "The Legend of Sleepy Hollow", de Washington Irving.
Embora seja um conto americano o escritor se inspirou muito no folclore Europeu sobre lendas de um cavaleiro sem cabeça que decepava a cabeça de camponeses. Deve-se levar em conta que, mesmo sendo dirigido por Tim Burton, a produção ficou por conta do mestre Frances Ford Coppola e que anos antes havia realizado a sua obra de horror "Drácula - De Bram Stoker" (1992). O projeto não era somente para saciar a sede dos realizadores para realização de um filme de horror, como também corresponder os fãs que desejam assistir a um filme que remetesse aos bons tempos, por exemplo, da Hammer, estúdio inglês que se tornou conhecido pelo mundo pela realização de filmes de terror.
A trama se passa em 1799, onde uma série de crimes acontecem em um pequeno vilarejo de Sleepy Hollow. Para investigar o caso é chamado o detetive nova-iorquino Ichabod Crane (Johnny Depp), um excêntrico e determinado oficial de polícia com um jeito incomum de solucionar crimes. Os métodos investigativos de Ichabod serão postos à prova perante ao verdadeiro assassino, um Cavaleiro Sem Cabeça.
Embora seja baseado em um conto americano todo o filme foi filmado na Inglaterra, sendo que 75% do longa foi filmado em estúdio. Isso fez com que Burton se sentisse bastante à vontade na realização do projeto, já que era grande fã dos filmes da Hammer e fazendo como se tivesse voltado no tempo. Ao mesmo tempo, o filme possui algumas passagens sem diálogo, remetendo aos bons tempos do cinema mudo e cujo os trejeitos dos personagens diziam muito.
Mas as homenagens de como se fazia cinema como antigamente não param por aí, pois há referências aos cinemas de horror da Universal dos anos trinta, com o direito a uma fotografia quase em preto e branco e fazendo por alguns momentos nos esquecermos de que estamos vendo um filme a cores. Além disso, o realizador presta uma homenagem em determinadas cenas ao horror do cinema Italiano, como aqueles que Mario Bava havia proporcionado e dentre eles a sua obra prima "A Maldição do Demônio" (1960). Ou seja, um filme todo moldado com tudo o que Tim Burton assistia quando criança, com o direito de uma participação de Christopher Lee, o eterno Drácula, em cena.
Esse filme marcaria a terceira participação de Johnny Depp em um filme de Burton, sendo que ambos formariam uma longa parceria também no decorrer no início dos anos dois mil. Aqui, Depp constrói para si um Ichabod Crane com traços de humor, mas que também não esconde o seu lado trágico devido às sombras do passado. Curiosamente, o seu modo de interpretar remete quase um desenho animado, mas que talvez seja proposital, já que Burton também era muito fã da média metragem da Disney intitulado "Ichabod" (1949) e sendo apontado por muitos críticos como um dos mais sombrios do estúdio.
Curiosamente, a figura do Cavaleiro Sem Cabeça foi composta por mais de um intérprete, sendo um que cavalgava e outro sem cabeça que lutava com espadas que era interpretado por Ray Park, o Darth Maul da segunda trilogia de "StarWars". Já quando o personagem tinha a sua cabeça ele era interpretado pelo ator Christopher Walken, intérprete que já havia trabalhado com Burton em "Batman - O Retorno" (1992) e aqui ele surpreende com a sua presença assustadora mesmo nos poucos momentos em cena. Além disso, o personagem não tem falas, sendo que a sua interpretação corporal fala por si e tornando a figura do cavaleiro ainda mais ameaçadora.
O filme também marcaria o primeiro trabalho do realizador com a jovem atriz Christina Ricci, na época conhecida como a Wandinha nos dois primeiros filmes da "A Família Addams". A sua personagem Katrina Van Tassel mais parece uma figura angelical em meio a personagens tão excêntricos e sombrios e cuja figura da Bruxa está impregnada em boa parte da obra. Neste caso, não dá para não deixar de citar o ótimo trabalho da atriz Miranda Richardson, que aqui faz um trabalho duplo e com forte ligação com o monstro da trama.
Também nunca é demais mencionar o fato de que Tim Burton sempre prezou a criação dos seus filmes com efeitos práticos, sendo que raramente ele abraça o CGI e quando isso acontece o resultado vai contra a sua própria natureza. Para esse filme, porém, um dos poucos CGI vistos em cena é uma em que o Cavaleiro joga o seu machado no chão, sendo que o mesmo acaba se desmanchando. Além disso, o recurso é também utilizado nas tomadas em que o cavaleiro é interpretado por Ray Park e cuja sua cabeça é totalmente apagada.
Pode-se dizer que, independentemente de qual recurso técnico que seja, Burton sempre utilizou em prol de criar uma boa história. Além disso, a trilha musical é novamente composta pelo maestro Danny Elfman, parceiro habitual do cineasta e que aqui novamente o seu trabalho se sobressai na construção de uma melodia que se casa com o lado sombrio da obra. Destaque para os flashbacks do protagonista, onde a sua trilha nos transmite o lado lírico e poético dessas passagens como um todo.
Na época do seu lançamento, o filme ganhou críticas mistas, sendo que alguns declararam o seu amor pela visão autoral do diretor, enquanto outros criticaram o excesso da violência, principalmente devido a decapitação de uma criança dentro da história. Isso não impediu de, ao menos, o filme arrecadar mais de R$ 200 milhões na bilheteria, mesmo tendo estreado junto com o filme "007 - O Mundo Não é o Bastante" (1999). Em premiações, o filme foi vencedor do Oscar de Melhor Edição de Arte, além do BAFTA pela mesma categoria e de Melhor Figurino.
Hoje, pode-se dizer que o filme envelheceu muito bem, sendo visualmente assustador, divertido em alguns momentos graças à atuação de Johnny Depp e tendo uma verdadeira carga de referências com relação ao gênero de horror. O filme é uma prova que, mesmo em um período em que o CGI dominaria na elaboração dos blockbusters, é sempre bom constatarmos que um filme possui o seu peso graças aos efeitos práticos de antigamente. Neste caso, Tim Burton é o que melhor entende.
"A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" é um belo clássico de horror, elaborado pelas mãos de Tim Burton e um verdadeiro exercício para os amantes do cinema como um todo.
Vencedor de Melhor Direção no Festival do Rio, filme dirigido por Davi Pretto será exibido com presença de equipe e elenco local
Nesta quinta-feira de Halloween, 31 de outubro, a Cinemateca Capitólio recebe um evento de lançamento do horror gaúcho “Continente”, vencedor de Melhor Direção no Festival do Rio pela categoria Novos Rumos. As exibições acontecerão na Cinemateca Capitólio, em dois horários - às 19h e às 21h. Diretor, equipe e elenco local estarão presentes. O longa foi produzido pela Vulcana Cinema, com coprodução da Dublin Films, Murillo Cine e Pasto, e tem distribuição assinada pela Vitrine Filmes.
Além de Davi Pretto e de Paola Wink e Igor Verde, que assinam o roteiro ao lado do diretor, grande parte da equipe e elenco também é de Porto Alegre. "Diferente de ‘Rifle’ e ‘Castanha’, onde trabalhei apenas com atores locais e atores não profissionais, em Continente quis trabalhar com atores de fora do Rio Grande do Sul para ressaltar a tensão de diferentes tons de estrangeirismos, pertencimentos e heranças que o filme evoca. Há atores do Rio de Janeiro, São Paulo, Argentina e da França. Porém, obviamente há também muitos atores e atrizes gaúchos que formam a alma e força do vilarejo do filme. Muitos deles eu nunca havia trabalhado antes e a marca que eles deixaram no filme me orgulha muito. Silvia Duarte, Hayline Vitória, Anderson Vieira, Marcio Reolon, Cassio
Nascimento, Rodolfo Ruscheinsky, Luiz Paulo Vasconcellos e Sirmar Antunes”, conta o diretor. “Sirmar veio a falecer alguns meses depois que filmamos. Soube que nosso longa foi o último que ele fez. Me sinto muito honrado de ter podido conhecer Sirmar e ter trabalhado e aprender com ele. Sirmar era perseverante e incansável no set, tinha uma energia e presença magnética. Vi muitos da equipe emocionados quando fizemos um close de Sirmar, em cena com sua filha no filme interpretada por Ana Flavia Cavalcanti.
O cinema gaúcho deve muito a Sirmar."
"Continente" teve sua estreia mundial em Munique e participou dos principais festivais de cinema de gênero do México, Portugal e Itália. Também foi exibido na mostra competitiva de Sitges, na Espanha, um dos maiores eventos audiovisuais de terror e fantasia do mundo. O filme traz uma narrativa distópica que mescla drama e terror. Depois de 15 anos fora do país, Amanda, interpretada por Olivia Torres, volta à fazenda onde cresceu para reencontrar seu pai, que entrou em estado de coma, sem esperanças de retorno
à consciência. Com o apoio de seu namorado francês, Martin (Corentin Fila), Amanda chega ao vilarejo remoto, no sul do Brasil, em meio a uma crescente tensão entre os trabalhadores da terra. A única médica da região, Helô, vivida por Ana Flavia Cavalcanti, faz o que pode para cuidar dos moradores, mas quando o dono da fazenda vem a óbito, um antigo acordo entre o povoado e o proprietário gera uma perturbadora reação coletiva da população.
O longa é uma coprodução entre Brasil, França e Argentina, e contou com o apoio do Berlinale World Cinema Fund, iniciativa da German Federal Cultural Foundation, em parceria com o Festival Internacional de Berlim, para estimular a produção e distribuição de filmes estrangeiros. O lançamento de “Continente” integra a Carteira de Projetos da Vitrine Filmes, aprovada no Edital de Distribuição de Produção Audiovisual da Lei Paulo Gustavo no Estado de São Paulo.
SINOPSE
Depois de 15 anos morando no exterior, Amanda volta para casa com seu namorado francês Martin. Eles chegam à grande fazenda de sua família, localizada em uma vila isolada nas planícies infinitas do sul do Brasil. Lá, Amanda encontra seu pai em coma e uma tensão crescente entre os trabalhadores. A única médica do vilarejo local é Helô, uma jovem que se resigna a cuidar da população local. A morte iminente do dono da fazenda colocará Amanda, Martin e Helô no centro de um perturbador acordo entre o povoado e a fazenda.
Ficha técnica:
Direção: Davi Pretto
Produtora: Vulcana Cinema
Coprodutoras: Dublin Films, Murillo Cine, Pasto
Coprodução: David Hurst, Cecilia Salim, Georgina Baisch Barbara Francisco
Distribuidora: Vitrine Filmes
Roteiro: Davi Pretto, Igor Verde, Paola Wink
Produção: Paola Wink, Jessica Luz
Direção de Fotografia: Luciana Baseggio
Montagem: Valeria Racioppi (SAE)
Direção de Arte: Bea Gerolin
Desenho de Som: Tiago Bello
Mixagem: Leandro de Loredo, Facundo Gómez
Som Direto: Marcos Lopes
Trilha Sonora: Rita Zart, Bruno Vargas, Carlos Ferreira
Elenco: Olivia Torres, Ana Flavia Cavalcanti, Corentin Fila, Breno de Filippo, Silvia Duarte
DAVI PRETTO | Diretor
Davi Pretto (Porto Alegre, 1988) graduou-se em Cinema na PUCRS em Porto Alegre em 2008. Aos 25 anos, estreou seu primeiro longa-metragem “Castanha” no Festival de Berlim em 2014, na mostra Forum. O filme competiu nos festivais de Edinburgh, Bafici, Hong Kong
e Havana, além de ter ganho o prêmio de Melhor Filme no Festival do Rio, na mostra Novos Rumos. Em 2017, Davi retornou ao Festival de Berlim para exibir seu segundo longa-metragem “Rifle” também na mostra Forum. O filme venceu o Grande Prêmio no Festival de
Jeonju e os prêmios da Crítica e Melhor Roteiro no Festival de Brasília. Em 2018, Pretto foi bolsista no DAAD Berlin Artists-in-Residence. Seu terceiro longa-metragem “Continente” foi realizado em uma coprodução oficial Brasil, França e Argentina, apoiada pelo Berlinale World Cinema Fund. O filme estreou na competição Cine Rebels do 41º Festival de Munique em 2024. Atualmente, trabalha na pós-produção de seu quarto longa-metragem “Futuro Futuro”.
Quais foram os principais desafios na produção de Continente, especialmente sendo uma coprodução entre Brasil, França e Argentina?
"O desafio maior ao fazer cinema independente de baixo orçamento, como sempre fiz, é transformar as limitações do projeto em forças criativas. Que a ausência se torne potência. Nesse caso, a coprodução foi o que fez o filme viável, na verdade. Só com dinheiro brasileiro nunca faríamos o filme, ainda mais em um período de um governo brasileiro que odiava a cultura. Felizmente, este ex-presidente está inelegível atualmente, e espero que assim permaneça. Porém, mesmo tendo esses três países envolvidos, e ainda dinheiro da Alemanha, o orçamento que conseguimos captar era muito menos que muitos filmes do centro do país. Foi um projeto muito desafiador, com muitos efeitos visuais, filmado em um vilarejo remoto, de difícil acesso, somado aos gastos de protocolos sanitários pós-pandemia.
Foram dezenas de litros de sangue falso, centenas de próteses de efeitos e cadáveres de silicone que vieram da Argentina, equipamentos de câmera que vieram da França, além de técnicos e atores destes países. Graças ao esforço dos incansáveis produtores destes três países e de toda equipe e elenco envolvida, esse filme ousado, sensorial e assombroso hoje existe."
O filme mistura elementos de drama e terror. O que o motivou a explorar essa combinação de gêneros, e como você equilibrou esses elementos na história de Continente?
"Essa mistura faz parte da minha cinefilia. Do amor que tenho, por exemplo, tanto por 'Dawn of the Dead', do Romero, quanto por 'Ordet', do Dreyer. Além disso, cineastas que mostraram que os limites do gênero podem ser testados, ampliados e quebrados sempre
me serviram de inspiração. Cronenberg, Claire Denis, Kiyoshi Kurosawa... Isso está presente também nos filmes anteriores que fiz, os fantasmas em 'Castanha' e o faroeste em 'Rifle'. Em "Continente", o gênero não veio antes como uma regra 'vamos fazer um filme de gênero com tais elementos'. O horror e os elementos de gênero do filme emergiram naturalmente ao longo da escrita do roteiro, como ferramenta para traduzir as sensações e aflições da história que a gente queria contar. Exatamente por isso, acho que o filme
acaba sendo bastante particular e ousado na maneira que opera dentro das expectativas e convenções do cinema de horror." O filme aborda questões de poder e tensão social no interior do Brasil. Quais questões sociais contemporâneas você quis trazer à tona através dessa narrativa?
"Para mim, tanto quanto para Igor Verde e Paola Wink, que escreveram comigo o filme, essa era uma história sobre a herança colonial brasileira que cria um sistema de violência, dominação e subjugação entre pessoas. Um sistema que não só se repete, como se aperfeiçoa ao longo do tempo. Um sistema que precisa produzir violência para seguir existindo. O filme, claro, não busca dar respostas para esse sistema, porque essa não é a função do cinema e da arte, ao meu ver, mas busca novas perguntas para fazermos a nós mesmos, tanto quanto indivíduos e quanto nação. Uma delas, é a qual a relação entre desejo e violência dentro desse sistema que herdamos e que segue em operação. A outra pergunta é se conseguimos imaginar, ao menos imaginar, uma alternativa a este sistema."
VULCANA CINEMA| Produtora
Vulcana Cinema é uma produtora de cinema fundada por Jessica Luz e Paola Wink. Seus longas-metragens incluem O EMPREGADO E O PATRÃO de Manuel Nieto Zas (Quinzena dos Realizadores de Cannes 2021), TINTA BRUTA de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher (Prêmios Teddy e CICAE na Panorama do Festival de Berlim 2018), RIFLE (Forum do Festival de Berlim 2017) e CASTANHA (Forum do Festival de Berlim 2014), ambos dirigidos por Davi Pretto. Com foco em cinema de autor, coproduções nacionais e internacionais, a produtora já produziu
e lançou 8 longa-metragens, entre eles, 5 coproduções internacionais. Seus projetos foram contemplados com importantes fundos como Hubert Bals Fund, Vision Sud Est, World Cinema Fund, IDFA Bertha Fund e NRW e participaram em laboratórios como EAVE Puentes, Berlinale Talent Project Market, Torino Film Lab e Binger Film Lab. Seus projetos mais recentes incluem CONTINENTE (coprodução Brasil, França e Argentina) de Davi Pretto, DE GUINÉ (Hubert Bals Fund 2019 para desenvolvimento) de Caroline Leone, A SOLIDÃO DOS
JOVENS ATORES (em pós-produção, Berlinale Co-Production Market 2021) do duo Filipe Matzembacher e Marcio Reolon, TALISMÃ (com previsão de gravação para o início de 2025) de Thais Fujinaga, e CULEBRA NEGRA (coprodução entre Colômbia, Brasil e França em pós-produção).
DUBLIN FILMS | Coprodutora (França)
Dublin Films é uma produtora de cinema independente formada em 2006 e sediada em Bordeaux, na França, localizada onde a Nouvelle-Aquitaine Region dá grande suporte à indústria do cinema. Nós produzimos ficções e documentários que defendem visões únicas de mundo e que se concentram em questões sociais e políticas, particularmente questões ligadas à diversidade e identidade. Nós gostamos de combinar histórias intimistas com histórias do nosso tempo. E nós somos apaixonados por dar suporte a talentos emergentes e ao cinema independentes pelo mundo, especialmente na América Latina.
MURILLO CINE | Coprodutora (Argentina)
Murillo Cine é uma produtora de cinema argentina fundada por Georgina Baisch e Cecilia Salim. Elas produziram filmes como The snatch Thief de Agustín Toscano (Quinzena dos Realizadores, Cannes 2018); The Future Perfect de Nele Wohlatz (Melhor Longa-metragem
de Estréia, Festival de Locarno 2016) and A Barqueira de Sabrina Blanco (Melhor Longa-metragem de Estréia, Festival de Cinema de Málaga 2020). Entre suas coproduções internacionais mais importantes estão O Empregado e o Patrão (Uruguai, Argentina, França e Brasil) de Manuel Nieto, exibido na Quinzena dos Realizadores de Cannes de 2021; Land of Ashes (Costa Rica, Argentina, França e Chile) de Sofía Quirós Úbeda, Semana da Crítica de Cannes de 2019; Continente (Brasil, França, Argentina) de Davi Pretto, Festival
Internacional de Munich e Jesús López de Maximiliano Schonfeld (Argentina, França), estreia no Festival de Cinema de San Sebastián, Melhor Filme Latino no Festival de Cinema de Mar del Plata 2021, Prêmio Abrazo no Festival de Cinema de Biarritz. Atualmente estão na pós-produção de Maybe it's true what they say about us de Sofía Gómez & Camilo Becerra (Chile, Argentina).
VITRINE FILMES | Distribuidora
Desde 2010, a Vitrine Filmes já distribuiu mais de 250 filmes e alcançou milhares de espectadores apenas nos cinemas do Brasil. Entre seus maiores sucessos estão “Bacurau”, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2019;
“O Processo”, de Maria Augusta Ramos, que entrou para a lista dos 10 documentários mais vistos da história do cinema nacional; e “Druk: Mais Uma Rodada”, de Thomas Vinterberg, vencedor do Oscar® de Melhor Filme Estrangeiro em 2021.
Hoje a Vitrine Filmes faz parte do Grupo Vitrine, que conta com selos e iniciativas diversas a fim de atender diversas áreas do mercado, são eles: Vitrine España que há 4 anos produz e distribui longas-metragens na Europa; Vitrine Lab, curso on-line sobre distribuição cinematográfica, vencedor do prêmio de distribuição inovadora do Gotebörg Film Fund 2021; Manequim Filmes, selo com distribuição de filmes com apelo a um público com sucessos como “Nosso Sonho - A História de Claudinho e Buchecha”, filme brasileiro mais assistido
em salas de cinema em 2023; Sessão Vitrine Petrobras que volta com lançamentos brasileiros premiados e aclamados pela crítica e festivais com ingressos reduzidos como “Sem Coração” e relançamento de “A Hora da Estrela”; e Vitrine Produções, que produz e coproduz curtas, documentários e longas-metragens, dentre eles "O Nosso Pai", curta de Anna Muylaert exibido no Festival de Brasília, “Levante”, de Lillah Halla, vencedor do prêmio FIPRESCI na Semana da Crítica 2023, e “Retratos Fantasmas”, Kléber Mendonça Filho, documentário
mais visto dos últimos 8 anos nos cinemas e também exibido em Cannes em 2023.
Alfred Hitchcock foi um realizador que nunca caiu na tentação de fazer continuações de seus clássicos, sendo que o máximo que ele fez foi uma refilmagem da primeira versão do filme "Um Homem Que Sabia Demais" (1956). Porém, quando o mestre do suspense partiu em abril de 1980 era questão de tempo para que uma das suas obras primas ganhasse uma continuação nas mãos de uma Hollywood sempre faminta pelo lucro. Eis que então tivemos em 1983 "Psicose 2", filme que possui algumas qualidades, mas peca pelos excessos de desdobramentos narrativos.
No final dos anos setenta e início dos anos oitenta o cinema foi invadido pelo subgênero slasher, onde assistimos assassinos mascarados prontos para assassinar jovens na floresta. A tendência se estendeu na ideia de trazer de volta Norman Bates para aqueles dias atuais, sendo que a princípio o projeto seria baseado em um livro que era continuação da obra que serviu de inspiração para Alfred Hitchcock, mas que logo foi descartado. Coube a Richard Franklin, assistente de longa data do mestre do suspense e do roteirista Tom Holland de dar luz ao longa. Com Anthony Perkins de volta no papel que o consagrou parecia que tudo se encaminharia para um grande sucesso.
A trama se passa há mais de vinte anos após os acontecimentos do primeiro filme, onde vemos internado em um sanatório, Norman Bates (Anthony Perkins), que é considerado apto para se reintegrar à sociedade. Ele então retorna à velha mansão e ao seu motel, mas algumas pessoas o consideram ainda perigoso e tentam evitar sua reintegração na sociedade. Ao mesmo tempo, Bates começa a ser assombrado pela presença de sua mãe novamente e crimes começam acontecer nos arredores.
Eu sempre soube que havia continuações do clássico “Psicose” (1960), mas nunca tive a coragem de assisti-lo após ler determinadas críticas negativas. Ao vê-lo, devo reconhecer que ele não é de todo mal, mesmo quando Richard Franklin insiste em imitar o mestre do suspense através de planos-sequências pouco inspirados, mas cuja fotografia sombria se torna um ingrediente atraente para dizer o mínimo. Em contrapartida, o filme evoca em vários momentos o clássico de 1960, ao ponto que abertura se inicia justamente com a clássica cena do assassinato no chuveiro e fazendo com que já de imediato constatamos que não sairá desta grande sombra para dizer o mínimo.
Anthony Perkins, por sua vez, faz novamente um trabalho primoroso na construção do seu Norman Bates, sendo que ele constrói um ser acuado pelo seu passado sombrio e fazendo com que nunca saibamos ao certo quando ele irá ceder para a sua mente fragmentada. Ao mesmo tempo, o filme nos lança a incerteza sobre até onde ele é responsável pelas mortes que acontecem em cena, sendo que a presença da personagem Mary Samuels, interpretada pela atriz Meg Tilly, nos passa certa dúvida com relação às suas reais intenções sobre Norman. É aí que o filme peca pelos seus desdobramentos absurdos.
O ato final é recheado de tensão, mas que fica aquém do esperado por grandes revelações uma em cima da outra e culminando em uma tão absurda que destoa tudo o que havia sido construído até ali. O final faz com que Norman volte à estaca zero e se tornando aquilo que havia um dia se tornado na primeira vez que nós o havíamos conhecido no clássico de Hitchcock. Se a intenção era deixar como tudo estava então para que tanta invenção até esse ponto da história?
"Psicose 2" vale mais como curiosidade, mas que somente existiu graças ao fato que o mestre do suspense já não estava entre nós na época.
Nesta quinta-feira (31), a Cinemateca Capitólio apresenta duas sessões especiais, às 19h e às 21h, do novo filme de Davi Pretto, Continente. O espaço estará tomado pelo clima do Dia das Bruxas, celebrando o retorno do cinema de gênero brasileiro da melhor forma: na tela dos cinemas! O valor do ingresso é R$ 16,00.
A Sessão Vagalume apresenta, nos dias 02 e 03 de novembro, sempre às 15h, a versão dublada de O Submarino Amarelo. A animação musical com direção de George Dunning e música dos Beatles é a pura essência dos anos 1960!
Celebrando o aniversário de 40 anos de A Hora do Pesadelo, marco do horror oitentista dirigido por Wes Craven, a mostra A Vigília do Delírio apresenta a partir do dia 29 de outubro narrativas no limiar do sonho e da realidade, com filmes de grandes nomes de diferentes períodos do cinema, como Jacques Tourneur, John Cassavetes, Alain Resnais, Apichatpong Weerasethakul e Hong Sangsoo. O valor do ingresso é R$ 10,00.