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Sapucaia do Sul/Porto Alegre, RS, Brazil
Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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quarta-feira, 5 de abril de 2017

Cine Dica: Em Cartaz: CENTRAL - O FILME



Sinopse: Em meio ao caos do sistema carcerário que se desencadeou no Brasil, em que centenas de presos são submetidos à superlotação, falta de infraestrutura e de higiene e má alimentação dentro dos presídios e as cidades estão vivendo ondas de violência nunca vistas, estréia o documentário Central - O poder das facções no maior presídio do Brasil, que retrata de dentro das celas a realidade nua e crua do pior presídio do Brasil e também da América Latina. 

 


Nos últimos tempos eu tenho discutido com amigos, colegas e até mesmo familiares sobre os presídios do Brasil atualmente. Quando eu toco no assunto, infelizmente, eles vem com aquela frase de que “bandido bom é bandido morto”, ou que os presídios servem para eles serem jogados lá dentro e se matarem. Infelizmente eles não querem pensar sobre o assunto, talvez por estarem cansados pelo fato da mídia sempre divulgar sobre a onda da violência, mas nunca mostrando realmente a raiz do verdadeiro mal que isso causa.
O documentário Central mostra as raízes da origem do bandido, mas que isso acontece não necessariamente na rua ou até mesmo em casa, mas num presídio, local onde deveria servir para reeducação da pessoa para retornar a sociedade, mas que na prática, essa idéia é praticamente esquecida. Dirigida pela cineasta Tatiana Sager com codireção de Renato Dornelles, o documentário adentra os corredores do Presídio Central de Porto Alegre, onde a capacidade é pouco mais de mil detentos, mas que em 2015 chegou ao cumulo do aumento de quatro mil. O resultado é a super lotação, cujo esse cenário se tem a criação de facções das quais funcionam, tanto dentro da prisão, como também no lado de fora dela.
Com mais de duzentas horas de filmagem, Tatiana Sager editou as cenas para a criação de um documentário de pouco mais de uma hora e vinte, mas do qual conseguiu passar o verdadeiro inferno na terra do qual acontece nesse cenário desolador. A câmera não recua em momento algum e mostrando a falta de higiene do local, falta de infraestrutura e fazendo com que atraia ratos e doenças para todos os lados. A sensação de cheiro de esgoto é sentida no momento onde é focado, por exemplo, o pátio do presídio, local onde os presidiários nem sequer conseguem jogar um futebol de uma forma decente.
Com depoimentos de presidiários, guardas e ex-diretores do local, acompanhamos minuciosamente a linha de eventos dos quais se criou esse cenário, sendo que eles datam desde 1995, quando ocorreu uma rebelião e causando pânico na cidade. Durante todo o documentário, testemunhamos que o estado pouco fez nesses mais de vinte anos e gerando então esse cenário claustrofóbico e do qual tentam ignorar. Devido à super lotação, as celas começaram ao longo do tempo a terem as suas grades abertas, pois não havia como elas comportarem tantas pessoas e fazendo dos corredores o dormitório deles.
Com isso, se tem o nascimento das facções dentro do local, sendo que, quanto mais o estado colocar presidiários por lá, mais elas se tornam fortes, ao ponto de até mesmo comandarem bandidos do lado de fora do presídio. Com isso, além de um ambiente infestado de doenças, os presidiários convivem com o fato de que, se não vive num grupo de facção lá dentro, será destinado á reclusão ou até mesmo a morte. Existem suicídios, mas muitos, por exemplos, são forjados, para então não indicar quem provocou tal ato contra a pessoa.
A força das facções é tão grande, que até mesmo os guardas trabalham para eles, com o direito de darem acesso a dinheiro e drogas vindo através das visitas. O lado cômico disso tudo é assistir uma determinada pessoa que trabalha no local e não admitir que isso ocorra lá dentro, pois admitindo seria o mesmo que confessar um crime do qual ajudou a cometer. É uma situação hilária vista no documentário para não dizer trágica.
O ápice da obra se encontra em cenas registradas de dentro e do lado de fora do presídio. Em 2015, um dos lideres das facções acabou sendo morto, com o direito de muitos presidiários comemorarem, mas para o meu espanto, a comemoração também ocorre do lado de fora, onde ex-presidiários ainda trabalham para as facções e disparam rojões para o alto em comemoração. Graças a essas cenas, testemunhamos um sinal claro de que o sistema está falido e reanimá-lo parece ser uma missão quase impossível.
O documentário Central é um verdadeiro soco no estômago, não só pelo fato de testemunharmos um cenário de horror, mas  também por nos darmos conta que o estado criou um monstro e do qual até hoje não consegue controlá-lo. 
       

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