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Sócio e Diretor de Comunicação e Informática do Clube de Cinema de Porto Alegre, frequentador dos cursos do Cine Um (tendo já mais de 100 certificados) e ministrante do curso Christopher Nolan - A Representação da Realidade. Já fui colaborador de sites como A Hora do Cinema, Cinema Sem Frescura, Cinema e Movimento, Cinesofia e Teoria Geek. Sou uma pessoa fanática pelo cinema, HQ, Livros, música clássica, contemporânea, mas acima de tudo pela 7ª arte. Me acompanhem no meu: Twitter: @cinemaanosluz Facebook: Marcelo Castro Moraes ou me escrevam para marcelojs1@outlook.com ou beniciodeltoroster@gmail.com

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segunda-feira, 30 de março de 2015

Cine Dica: Em Cartaz: O SAL DA TERRA



Sinopse: O filme conta um pouco da longa trajetória do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e apresenta seu ambicioso projeto "Gênesis", expedição que tem como objetivo registrar, a partir de imagens, civilizações e regiões do planeta até então inexploradas.


Certa vez Bette Davis (A Malvada) reclamou que quando a cor surgiu no cinema a sua arte havia morrido. Embora polêmica a declaração, talvez em parte ela esteja certa, pois o preto e branco possui uma força de conseguir extrair toda a beleza e vida da cena e fazendo com que apreciemos muito mais o que esta a nossa frente. Talvez Sebastião Salgado tenha compreendido isso quando jovem, pois cada uma de suas fotografias em preto e branco, seja de ontem ou hoje, é uma verdadeira revelação para os nossos olhos.
Dirigido por Wim Wenders (Asas do Desejo), acompanhamos nesse documentário a trajetória de Sebastião Salgado que, de um futuro promissor na área da economia, para um dos mais respeitáveis fotógrafos de nosso país. Do seu exílio fora do país (devido à ditadura) conheceu o seu grande amor Lélia Wanick, sendo ela responsável por ele seguir (meio que sem querer) a área do qual se tornou profissional e explorador.
O filme também possui co-direção Juliano Ribeiro Salgado, filho do fotografo que, graças a esse projeto, conseguiu compreender um pouco melhor a ausência do seu pai ao longo de sua vida. Ambos nunca tiveram atritos com relação a isso, mas se houve no seu intimo, Juliano resolveu exorcizar de uma vez só, tanto que, ao lado do diretor alemão, conseguiu encontrar o mais intimo e profundo lado humanista que o seu pai possui.
De volta ao Brasil nos anos 80, Sebastião decidiu criar trabalhos com a fotografia, cujos quais sintetizassem as diversas facetas do homem perante o mundo que vive. O seu ponta pé inicial que, colocaram a sua obra em evidencia, foi quando ele tirou inúmeras fotos dos mineiros da Serra Pelada, na época em que homens pareciam escravos, na busca por riqueza e glória. As imagens de inúmeras classes, mesmo aquelas com as suas vidas definidas, sintetizaram a loucura em busca de uma riqueza escondida.
Nestes momentos que se destrincha a alma do fotografo, tanto Wenders como Juliano Ribeiro cumprem bem os seus papeis como cineastas e ouvintes. Porém, a sensação que se passa a todo o momento, é que o próprio Sebastião que dirige a trama, colocando a nossa frente as suas fotografias e graças a sua narração mansa, se tem então o palco formado. Da parte técnica é preciso reconhecer o belo trabalho de montagem de Maxine Goedicke e Rob Myers que, mesclam cenas em preto e branco, cenas coloridas de arquivo e um incontável número de fotografias.
Esse trabalho da dupla na montagem encontra o seu ápice no momento em que o filme foca a trajetória do fotografo nos países da África. É ai então que documentário entra num território que, talvez ninguém queira encarar, nem o mais humanista dos seres humanos, mas é algo que é preciso ser visto por todos os povos. Sebastião esteve em países como Etiópia e Ruanda, onde a política, fome e o pior lado do ser humano, desencadearam cenários cujo quais representam o que seria um verdadeiro inferno na terra.
Pelo olhar e narração mansa, Sebastião faz um duro e seco desabafo com relação ao que viu e registrou, fazendo dele desacreditar até mesmo na existência de Deus. Em suas fotos, ele registra crianças, mas com olhares jaz velho e definhando rumo ao seu fim. Homens largando os seus filhos mortos em um entulho de cadáveres como se fosse lixo e a procura por uma terra prometida se torna um sonho praticamente impossível.
As imagens vistas na tela são terríveis, onde não se precisa enxergar a cor desoladora do cenário, pois basta ver o olhar da morte escancarada no rosto daquela gente, para então compreendemos que um filme de terror habitual é piada perante o verdadeiro terror daquela vida real. São poucas as fotos que se registra alguma esperança: a fotografia de um menino de costas ao lado de seu cachorro é o testemunho de uma pequena força que segue em frente, mesmo com um futuro incerto.
Após essa cruzada desoladora, Sebastião ficou doente fisicamente, mentalmente e espiritualmente. Sua volta por cima se encontrou justamente ao voltar para a fazenda aonde cresceu e tentar revitalizar a vida da terra de seus pais. O resultado foi o encontro do fotografo perante a força e beleza da natureza, da qual se revitaliza, assim como aqueles que moram em sua volta. Percebendo isso, Sebastião criou novamente um dos seus trabalhos mais fantásticos da carreira: Gênesis.
Nessa sua nova cruzada, Sebastião registrou lugares pouco explorados pelo homem, encontrando povos até então desconhecidos e paisagens das quais nem a sua própria fotografia consegue registrar tamanha beleza. Esse projeto fez com que ele voltasse a ter esperança perante o mundo em que vive e revitalizasse a sua missão: registrar imagens das quais a sua fotografia em preto e branco extrai o que as fotografias a cores (e digitais) não conseguem nos passar. 
Sal da Terra une beleza e horror num único documentário, onde ficamos chocados e deslumbrados com o que o nosso mundo pode nos oferecer. Tudo isso vindo das mãos e do olhar de um homem comum, mas que nos brindou com imagens nunca antes vistas, registrados com o seu olhar pessoal com relação ao mundo em que vivemos. Desde já um dos melhores filmes do ano.   

Extra:  Abaixo solto momentos dos quais conheci a obra de Sebastião Salgado na Usina do Gasômetro algum tempo atrás: 

 
 
 


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